quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

contido

arriscando rascunhos de cunho casto
fingiu-se bem comportado.

esperou até a véspera do
seu próprio apocalipse

pra notar o engano

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

toco a ti quando
plano os picos

sopro úmido no meu lábio o gelo
sua pele é ventania e o beijo
imenso

no topo,
de tara,
toco-te.


segunda-feira, 3 de setembro de 2012

precipitação

do ocre do céu que beira
meu leste
chora o véu úmido que
foi um dia
minha veste.

era tristeza em murmúrio e contida,
agora é desespero sem lei
jorrando na chuva da

minha fachada em queda

e gotas
ocres
de céu


quinta-feira, 16 de agosto de 2012

iluminação substituta

Sou notívaga por demasia.
Sua aura celeste de sois petalados já me cede luz e assim,
não me faz saudade o dia.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

terça-feira, 7 de agosto de 2012

lembrança

esse barulho de avi
ããããããããããããããão

que ensurdece,
mais me conforta

por me lembrar
da menina morena
leve
de fala torta

sem recíproca

me é absurdo ver
tu a te iludir tanto e ainda mais.
erro crasso crer
(querer!)
tal "nós"

faz favor
de trancar a trinca desse teu tépido coração tamborilante e
não me amola com esse teu
amor

domingo, 29 de julho de 2012

shhh

vem pesar essa tua mágoa no meu ombro
e encosta tua bochecha molhada
na fina pele do meu
consolo

sábado, 28 de julho de 2012

quinta-feira, 26 de julho de 2012

segunda-feira, 25 de junho de 2012

astróloga

vi teu nome magro
pedindo
no versoanúncio de um
folhetim

sem pudor ou recato
dizia lá, assim

"maria carolina sábia
do céu"

sabia do
céu

maria carolina que lia
as estre
las


quarta-feira, 20 de junho de 2012

a priori

Até os quatorze anos vi poesia como a mais inegável fonte de chatice em sua essência.

Sem paladar, olfato,
ouvido ou libido,
ainda dormia.


quinta-feira, 14 de junho de 2012

quinta-feira, 24 de maio de 2012

brasão

sacaste pena
mui farta e plumosa
afiou fincou e com afinco riscou
ponta fina por teu peito,
chiaroscuro de nanquim
afresco de tecido
pulsando na pele
e em mim

te tornou teu eu
vermelho
tão meu


domingo, 20 de maio de 2012

queda

teus lábios furta-cor
ecoando de teu corpo imóvel
ao fim da avenida

entoando desconsolada ode
em vão

e áspero,
o chão


terça-feira, 1 de maio de 2012

fluir

desemboca água morna de março
meio à bruma argentina,
rio abaixo

rochedos de cá e lá,
a guiar o curso d'água
n'um azulado torpor chuvoso
augusta sina,
aquoso véu

timbres de mel
a ecoar ao vale
no jorrar imorredouro
d'um cântico de iara

sábado, 28 de janeiro de 2012

insight

O trem rubro passa como se saído de um gatilho em fúria.

De cabelo preso em coque malfeito, ela sente gelarem seus ouvidos nus. Caminha com um pouco de pressa, desajeitada sobre os paralelepípedos musgosos, ansiosa para se aquecer no aconchego de casa ao se afastar da plataforma. O sol, supostamente a horário de pino, se encontra tímido por trás de uma muralha de vapor leitoso.

Ao postar-se de frente aos degraus longilíneos da saída da larga construção, como se n'um farfalhar de algo em seu âmago, perde a pressa. Furtividade ida, olha aos lados a fim de entender o ocorrido.

Obviamente, não encontra a resposta no que vê. Transeunte ou pedra lapidada nenhum lhe ilumina ideia.

Olha pra frente enquanto alguns pombos imundos alçam voo, ventania vindo e formando uma auréola de fiapos de seu próprio cabelo ao redor de seu rosto inexpressivo.

Sente como se tivesse deixado algo escapar.

Com o vestido de cor crua balançando de leve ao seu redor, se pergunta apenas se perdeu essa coisinha há pouco ou se deixou o pedaço fugir há mais tempo.

domingo, 15 de janeiro de 2012

melhor de duas

já quando criava asco
a essa melancolia fria
pairando em teima
por demasia

tu sutilmente, assim
brotou cá

tal qual ciranda
em meio a balanço de parquinho,
cantarolar açucarado
descoordenado, e
ao léu

samba de criança

tu vagalumeou pra cá,  
serena
plantou tua alegria na minha
de leve, a rir
porque, oras
quis

sopraste tempero
na minha monotonia

domingo, 1 de janeiro de 2012

22:43

ar pesado
tépido terroso
na taverna tal

adentra cá
guria magra vestindo de preto
pisando a passo torto
recolhida
doendo

chama o garçom, diz que quer é beber
o moço
só quer que ela diga o quê

pulsos tensos
o olhar meio aguado
embaçado
ela profere a favorita
rapaz assente e diz que traz

vira pra si
si mesma

o pensamento tentando
(só e apenas) tentando
se desvencilhar do peito

agora tão gelado
quanto o copo curto ao qual se agarra,
faz de si mercê
a engolir choro

em uma cena tão clichê