terça-feira, 18 de outubro de 2011

cirque

caros
senhora senhor e pequenos
cá sobre lustroso picadeiro,
veis, deslumbramte impassível
retumbante insensível
o acaso!, por assim
chamar

vos cabeis o aclamar

poderoso por si só...
não
poderoso conosco
vida minha tua dele
a equilibrar-se em fio único
linho a bambolejar, segmento de cabelo
que mais parece o nada

rufem os tambores

lã de meio termo entre
céu e terra e caos:
não vos garanto que de lá,
nosso artista não cairá
com baque surdo a vos sobressaltar

joguem os dados

esse é o ponto:
não há de prevê-lo, meus prezados
cidadãos desalmados.
hipocrisia espetaculosa é regra

surpreendei-vos e aproveitai a apresentação
dela sei que, apesar de tudo
nada aprenderão

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

alma da rua

eis que ao meio-dia
o calçadão de centro velho se abre
e fiel à imaginária percussão
cá vem excêntrico, a abrir passagem 
o homem do acordeão

dono de voz mirabolante e floreada
a casar-se com as notas
seus livres respirares
que de já costume suspiram anedotas

rima, improviso e harmonia
xícara de sol e três colheres de utopia

andarilha cá e 
por vez ou outra
dança lá

puxa o vento pr’uma valsa popular

de seus manejares leves graciosos
brota o encanto, que amável
colore viela

óleo sobre tela

domingo, 2 de outubro de 2011

manhã

acordo levanto me troco
incerta do momento exato no qual acordei
engulo café preto pulo no carro
dia raia, sem dó ou freio
bem sei

cinza no céu, cinza no rosto
automóvel rápido pelas ruelas
cantinho de cá
meus olhos sonolentos recaídos
sobre um aparelho celular

mensagem tua a apitar

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

vontades

quis o mar a brisa
quis a brisa cabelo
que solto
leve
quis a pele

ciclo de quereres
enlaçam-se em consumo mútuo
a cada sopro toque imagem
a cada fruto

sopros de inconstância
que mirabolam cá e lá
a coreografia de desejos
incontidos
réles
faz-se aflorar

por fim
costura-se tal trama de vulgaridades
bordadas à mão
no linho do acaso
pontos, um milhão

desejos estes
que de tão pequenos
contrastam com querer meu
querer meu que
límpido

resume-se a ti

terça-feira, 6 de setembro de 2011

monóxido de cotidiano

quarta
céu quase preto/branco de nebuloso
acinzentado que vem do chão
chão paulista o qual encaro em contramão

a fim de florir
me alimento dos poluentes sonoros
visuais, texturatos
gasosos
alheios

espero o farol
pra pedestre eu poder cruzar
avenida a pulsar em meus pés
ao crepúsculo,
cardeal arcoverde a me entornar

sons graves de baixo no fone da orelha esquerda
-outro escorregou na esquina com a fradique-,
andar
inconscientemente
ritmado

nervos meus se enervam
pelo solo e se perdem
dentre fatos mil
metropolitanos mil

o grande organismo
luzes cores gases
andares cliques atrasos
buzina transa cumprimento
porta batendo
xingamento

vem de todo lado
a cada passo rumo ao centro
intensifica-se

e culmina na sé

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

companhias

é a presença clichê
do triste sabiá perdido
que floresce o ipê
roxo-rosa de não mais contido

assim como papel branco
invariavelmente, de caneta depende
à base de risco-rabisco-tranco
pra que, de verso em verso, poema emende

sábado, 6 de agosto de 2011

cisco doce

acaba que floresce no inverno
de larga pétala e suave tom

por esparramar o aroma morno
por colorir onda sopro e som

folia de luzes:
eis que brota sentimento bom